segunda-feira, 24 de maio de 2010

A. Severo Netto

Canto de Quase Inverno




Bêbado de silêncio e de distância

de tempo pré-velhice e pós-infância

diagonalizei-me em desvario

Fui de mim mesmo alga e cogumelo

transfixando amarra, laço e elo

na plenicarne vasta do vazio



Sufocado de treva e desencanto

de tempo pré-raiz e pós-espanto

verticalizei-me em desatino

Fui de mim mesmo início, fim e meio

trajado de amarelo desnorteio

louco sextante sem mostrar destino



Cansado de aclive e de abandono

de tempo pré-inverno e pós-outono

horizontalizei-me em desconforto

Fui de mim mesmo imagem, sombra e medo

despí-me de alarde e de segredo

colhí as velas...

...e arribei ao porto.



A. Severo Netto (Augusto 1976)

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