sexta-feira, 6 de abril de 2012

Antônio Brasileiro

Os instrumentos e ofícios
Este poema talvez não seja feito
para seu ouvido
acostumado às delícias
do pôr-do-sol, dos botões de rosa,
das palavras flácidas.

Este poema anda descalço
veste farrapos
xinga nomes horríveis.
Talvez seu ouvido se recuse
a captar coisas
tão ríspidas. Não importa.

Ele ecoará com seus trapos
sua rispidez sua
imundícia.
Ecoará bem alto
sobre as calçadas, os edifícios
sobre o mar —
e continuará ecoando em
cada onda nas praias
em cada pedra nas praças
em cada lâmina de faca.


- Antônio Brasileiro
in Moderna Poesia Bahiana, Tempo Brasileiro, 1967