O vento levantou-se...
Primeiro era como a voz de um vácuo...
Um soprar do espaço para dentro de um buraco,
Uma falta no silêncio no ar.
Depois ergueu-se um soluço,
Um soluço do fundo do mundo,
O sentir-se que tremiam vidraças
E que era realmente vento.
Depois soou mais alto, urro surdo
Um chorar sem ser ante o aumentar nocturno
Um ranger de coisas, um chorar de bocados,
Um átomo de fim do mundo.
Fernando Pessoa – livro do Desassossego 52.
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