segunda-feira, 24 de maio de 2010

FERNANDO PESSOA

O vento levantou-se...


Primeiro era como a voz de um vácuo...

Um soprar do espaço para dentro de um buraco,

Uma falta no silêncio no ar.

Depois ergueu-se um soluço,

Um soluço do fundo do mundo,

O sentir-se que tremiam vidraças

E que era realmente vento.

Depois soou mais alto, urro surdo

Um chorar sem ser ante o aumentar nocturno

Um ranger de coisas, um chorar de bocados,

Um átomo de fim do mundo.



Fernando Pessoa – livro do Desassossego 52.

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