Ninguém compreende outro.Somos,como disse o poeta,ilhas no mar da vida;
Corre entre nós o mar que nos define e separa.
Por mais que uma alma se esforce por saber o que é outra alma,
Não saberá senão o que lhe diga uma palavra – sombra disforme no chão do seu
Entendimento.
Amo as expressões porque não sei nada do que exprimem(...) – Fernando Pessoa
Livro do Desassossego – 359
...o sagrado instinto de não ter teorias ... 253
Apoteose do absurdo -371 Livro do Desassossego - Fernando Pessoa
Falo a sério e tristemente;este assunto não é para alegria,
Porque as alegrias do sonho são contraditórias e entristecidas
E por isso aprazíveis de uma misteriosa maneira especial.
Sigo às vezes em mim,imparcialmente,essas coisas deliciosas e absurdas
Que eu não posso poder ver,porque são ilógicas à vista –pontes sem donde nem para onde,
Estradas sem principio nem fim,paisagens invertidas- o absurdo ,o ilógico,o contraditório,
Tudo quanto nos desliga e afasta do real e do seu séquito disforme de pensamentos
Práticos e sentimentos humanos e desejos de acção útil e profícua.O absurdo salva de chegar
A pesar de tédio aquele estado de alma que começa por se sentir a doce fúria de sonhar.
E chego a ter não sei que misterioso modo de visionar esses absurdos - não sei explicar,mas eu vejo essas coisas inconcebíveis à visão.
Apoteose do Absurdo - 372
Absurdemos a vida,de leste a oeste.
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