quarta-feira, 30 de março de 2011

Ruy Espinheira Filho

O ROSTO DA CHUVA




Esse rosto na chuva

te olha.

É uma chuva longa, uma

de muitos anos e viagens

correndo por esse rosto.



Densa como sangue, chove.

No rosto, outros rostos

cintilam,

gotas esparsas.

Assim casas, cidades, nomes,

Animais,

marés do peito abismo.



Esse rosto na chuva

te reflete

com o que a vinda,

vida,

te doou e às vezes inscreveu

tão fundo que lá não desces.



Esse rosto

na chuva que circula

em tuas veias

te punge com mil irresgatáveis

e

áspero cresce

sob a pele suave do teu rosto.



Ruy Espinheira Filho

In ‘Julgado do Vento’ (1979)

Nenhum comentário:

Postar um comentário