terça-feira, 22 de março de 2011

Raul Machado

Fico, em volúpia, a olhar, numa atitude abstrata..


SERENIDADE





Fico, em volúpia, a olhar, numa atitude abstrata,

Os quadros de oiro e luz de um pôr de sol tristonho,

Há na minh’alma uma tendência inata

Para a serenidade e para o sonho.



Maldigo o vendaval, que em desvairado giro

As florestas contorce, em crispações estranhas.

E à inquietude do mar, sempre aflito, prefiro

A sugestiva paz, absorta, das montanhas.



Amo a contemplação, que em êxtases contritos

O espírito feliz transfigura e enaltece

E o pensamento eleva aos astros infinitos,

Nas asas de uma rima e ao vôo de uma prece.



Rica de poesia, a placidez evoca,

Em brumas de saudade, o sonho já sepulto ...

E o silêncio, fecundo, não se troca

Pela esterilidade do tumulto.



Homem! No coração o ódio reprime!

As paixões, faze tudo para contê-las!

Que o céu, sem nuvens, ainda é mais sublime!

E a água quieta é que reflete estrelas ...





Raul Machado

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