Fico, em volúpia, a olhar, numa atitude abstrata..
SERENIDADE
Fico, em volúpia, a olhar, numa atitude abstrata,
Os quadros de oiro e luz de um pôr de sol tristonho,
Há na minh’alma uma tendência inata
Para a serenidade e para o sonho.
Maldigo o vendaval, que em desvairado giro
As florestas contorce, em crispações estranhas.
E à inquietude do mar, sempre aflito, prefiro
A sugestiva paz, absorta, das montanhas.
Amo a contemplação, que em êxtases contritos
O espírito feliz transfigura e enaltece
E o pensamento eleva aos astros infinitos,
Nas asas de uma rima e ao vôo de uma prece.
Rica de poesia, a placidez evoca,
Em brumas de saudade, o sonho já sepulto ...
E o silêncio, fecundo, não se troca
Pela esterilidade do tumulto.
Homem! No coração o ódio reprime!
As paixões, faze tudo para contê-las!
Que o céu, sem nuvens, ainda é mais sublime!
E a água quieta é que reflete estrelas ...
Raul Machado
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