terça-feira, 22 de março de 2011

PIER PAOLO PASOLINI

anatomia da lingua


(...) Para me fazer compreender, tenho que referir-me à afirmação (...) de que existe antes de tudo o mais uma linguagem da acção (que dizemos assim, por analogia, semiológica, nas expressões "linguagens da moda, linguagem das flores", etc., etc.): falei já de um poema de acção a propósito de Lenine... Pois bem, talvez impelido pela grande vaga de empirismo, por um lado, e, por outro lado, de moralismo que investe o mundo dos anos presentes, quero insistir neste ponto.

A primeira linguagem dos homens parece-me, portanto, o seu agir. A língua escrito-falada não é mais do que uma integração e um meio deste agir. mesmo o grau máximo de autonomia da língua relativamente a este agir humano - ou seja: o momento puramente expressivo da língua - a poesia - não é por sua vez senão uma nova forma de acção: no momento em que o leitor a escuta ou a lê, em resumo: a percepciona, liberta-a de novo da convenção linguística e recria-a como dinâmica dos sentimentos, dos afectos, das paixões, das ideias: redu-la a entidade audiovisual, quer dizer: reprodução da realidade, acção - e eis como o círculo se fecha. (...)





PIER PAOLO PASOLINI

(in "Emprisismo Herege";

Tradução de Miguel Serras Pereira)

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