terça-feira, 22 de março de 2011

Gilberto Mendonça Teles

Modernismo








No fundo, eu sou mesmo é um romântico inveterado.

No fundo, nada: eu sou romântico de todo jeito.

Eu sou romântico de corpo e alma,

de dentro e fora,

de alto e baixo, de todo lado: do esquerdo e do direito.

Eu sou romântico de todo o jeito.





Sou um sujeito sem jeito que tem medo de avião,

um individualista confesso, que adora luares,

que gosta de piqueniques e noitadas festivas,

mas que vai se esconder no fundo dos restaurantes.





Um sujeito que nesta recta de chegada dos cinquenta

sente que seu coração bate tão velozmente

que já nem agüenta esperar mais as moças

da geração incerta dos dois mil.





Vejam, por exemplo, a minha carta de apaixonado,

a minha expressão de timidez, as minhas várias

tentativas frustradas de D.Juan.

Vejam meu pessimismo político,

meu idealismo poético,

minhas leituras de passatempo.





Vejam meus tiques e etiquetas,

meus sapatos engraxados,

meus ternos enleios,

meu gosto pelo passado

e pelos presentes,

minhas cismas,

e raptos.

Vejam também minha linguagem

cheia de mins, de meus e de comos.

Vejam, e me digam se eu não sou mesmo

um sujeito romântico que contraiu o mal do século





e ainda morre de amor pela idade média

das mulheres.



Gilberto Mendonça Teles

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