quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Samuel Beckett

NSTANTE

Que faria eu sem este mundo sem rosto sem perguntas
Onde o ser só dura um instante e onde cada instante
Transborda para o vazio o esquecimento de ter existido
Sem esta onda onde por fim
Corpo e sombra juntos se anulam
Que faria eu sem este silêncio poço fundo de murmúrios
Curvando-se a pedir socorro pedir amor
Sem este céu posto de pé
Sobre o pó do seu lastro

Que faria eu eu faria como ontem e como hoje
Olhando para a minha janela vendo se não estou sozinho
A errar e a mudar distante de toda a vida
preso num espaço incontrolável
Sem voz no meio das vozes
Que se fecham comigo.

Samuel Beckett
(tradução inédita de Mário Carvalheira)

Um comentário:

  1. Adorei saber que há algum coração batendo lá do silêncio abrasado pela excessividade das palavras tornadas linguagem. Foi procurando um poema de Bechett que Foucault utiliza em A Ordem do Discurso que encontrei seu blog. Vou encaminhá-la para minha neta Camila Leotti, adolescente que já tráz no seu silenciar preservante como que um passa atráz e uma melhor escuta e que tenta ouvir o ináudivel que se sufoca sob o peso dos ruídos excessivos ensurdecedores da alma. Tenho um blog também, leotti.blogspot.com mas no momento estou escrevendo minha tese de doutorado e acho que vc me ajudará com sua alma linda como aparece na sua biosensibilis grafia que exala poema cru. Gostaria que virasse amiga de Camila, mas pelo menos vou endereçar seu link no facebook dela. Espero que minha tese se contamine com sua poética. inté mais amiga, naveguemos nessa náu dos insensatos, esses que rastejam para viver com seu silenciar respirador. meu email é leotti.odemar@gmail.com

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