quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Iacyr Anderson Freitas

Palavra carece de pátria

Iacyr Anderson Freitas



PEQUENO DIÁRIO DA PALAVRA


Toda palavra tem um oco
uma fenda uma avessa
claridade
de onde as formigas emigram.

Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.

Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.

O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.

Toda palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas do terreiro.

Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar
sem doer um grão de arroz
por sob a língua.

Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.

Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem.

Um comentário:

  1. Impressionante!
    Um grande poema.
    Poeta de que carece essa humanidade banalizada e insensível.

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