sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Juan de Nadie


Andar só em noites sem lua.
Acariciar as curvas meandrantes
de uma anatomia imaterial,
encarnando, vazia, o inefável.

O amarelo mercúrio incandescente
pende, tão óbvio, ladeando ruas,
iluminando, entre o vegetar das árvores,
toda a ausência do que não está.

O vento uiva discreto,
trocando confidências
com o concreto frio
- plateia inanimada
da cidade inerte
em madrugadas mortas.

As janelas piscam ao longe,
denunciando as ânsias
de um qualquer insone.

A angústia mora no descompasso,
na assincronia das presenças.
Calçadas embalando os tropeços
do movimento das tardes,
lamentam o recolher do passos
que repousam à noite.
Nada angustia mais do que o espaço
quando não há ninguém para preenchê-lo.

Há coisas que a luz do sol esconde,
e que a escuridão insiste em revelar.
Os buracos do quem, do quando e do onde,
preenchem-se nas ilusões diurnas.
À noite, ilusões se desfazem
e a lua nova mostra
tudo aquilo que não há.

(Juan de Nadie -
(08-02-2011)
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