segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Paulo Bonfim

O Ar



Em nossa transparência
Os muros da carne.

Em nossa angústia
O vento rebelde.

Em nossa nuvem
O vôo do pássaro.

Em nossa fonte
A água invisível.

Em nossa árvore
A serpente do nada.

Somos o ar
Na torre das palavras.



Publicado no livro Quinze Anos de Poesia (1958).
In: BOMFIM, Paulo. Antologia poética. São Paulo: Martins, 1962. p.7

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SONETO V


Alquimia do verbo. Em minha mente
Recriam-se palavras na hora vária,
A poesia se torna necessária
E as flores rememoram a semente.

É preciso que exista novamente
A aventura distante e temerária
De em ouro transformar a dor precária
E em nós deixar correr a lava ardente.

Que emoção profunda e mineral
Corra nos veios desta carne astral
E encontre em mim aquilo que procura.

Na paisagem que for, já sou nascido:
Nas formas criarei o elo perdido,
E, em lucidez, serei minha loucura.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 –
Som Distante

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