quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Licínia Quitério

Tem de haver um poema numa pedra de sol,
numa gota de sal, num riacho a florir.
Bem por dentro do vento, há-de estar uma pluma.
Abre a mão e verás uma ave do sul a piar, a piar.
É um espinho, um soluço, uma seta, um trovão?
Um passado, um caminho, uma luz, um porvir.
Música tem de ser o crocitar do corvo,
o choro dos escravos, a saudade, a saudade.
O rosto da infâmia, as mãos da crueldade,
o dorso da inveja, o ventre suicidado.
É urgente o instante de agarrar o poema,
desvendar a palavra, vesti-la, devorá-la,
fazer com ela amor.
Esperar a chuva e a serenata, a tília e o luar.
O inominado, o inacabado, o imperfeito,
a vida.

Licínia Quitério

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