quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Rainer Maria Rilke

Minha Vida Não É...


Minha vida não é essa hora abrupta
Em que me vês precipitado.
Sou uma árvore ante meu cenário;
Não sou senão uma de minhas bocas:
Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se.

Sou o intervalo entre as duas notas
Que a muito custo se afinam,
Porque a da morte quer ser mais alta…

Mas ambas, vibrando na obscura pausa,
Reconciliaram-se.
E é lindo o cântico.

Rainer Maria Rilke
Tradução: Guilherme de Almeida


Poema dedicado a Lou-Andreas Salomé, que quase se chegou a perder.

“Lösch mir die Augen aus: ich kann Dich sehn
Wirf mir die Ohren zu: ich kann Dich hören
Und ohne Fuss noch kann ich zu Dir gehn
Und ohne Mund noch kann ich
Dich beschwören.
Brich mir die Arme ab: ich fasse Dich
Mit meinem Herzen wie mit einer Hand
Reiss mir das Herz aus: und mein
Hirn wir schlagenund wirfst
Du mir auch in das
Hirn den Brand
So will ich Dich auf meinem Blute tragen.



Apaga-me os olhos: e ainda posso ver-te,
tranca-me os ouvidos: e ainda posso ouvir-te,
e sem pés posso ainda ir para ti,
e sem boca posso ainda invocar-te.
Quebra-me os braços, e posso apertar-te
com o coração como com a mão,
tapa-me o coração, e o cérebro baterá
e se me deitares fogo ao cérebro
hei-de continuar a trazer-te no sangue".


Tradução; Paulo Quintela

Nenhum comentário:

Postar um comentário