quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sylvia Beirute

QUIRAL

street street street street street street street street
street street street street
street street street street street street street street
street secret street street
street street street street street street street street
street street street street
street street street street street street street street
street street street street
street street street street street street street street
street street street street
street secret street street
street street street street street street street street
street street street street

um segredo murmura do outro lado
do silêncio
como um pássaro que silencia o ar.

Sylvia Beirute

-----------------------------------------
ALMA MATER

a arte relevante
não tem como efeito
o de tornar o artista imortal,
mas sim
o de lhe dilatar
a ideia de morte.


Sylvia Beirute

CONOSCENZA

{o teu reconhecimento é a tua dependência},
não o deixes passar da fase da costura.
surge. insurge. inespera.
adquire expressões através do
eco difuso dos vegetais, coloca-te
nas ranhuras da madeira.
há uma vida imprópria algures.
pode não ser como aquela que espera
na plumagem de uma memória
por antecipação, mas protege o silêncio
e não deixa coagular o sangue.
{o teu reconhecimento é a tua dependência},
e quanto mais o memorizares
mais afastado estarás
dos lados obtusos de quem te deseja habitar
e da semêntica temporal
das pessoas que te pedirão um
poema bonito,
e nada pior do que escrever
um poema bonito.

Sylvia Beirute
em Uma Prática para Desconserto
4Águas, 2011

Amo-te assim sem corpo "

amo-te assim sem corpo.
sem dias que sacodem lembranças.
sem últimas coisas.
sem ouvires de língua.
sem palavras que respiram pelo
nariz de outras.
sem compromissos abdominais.
sem o coração no bolso.
sem ruídos obscenos que
indiciam nudez.
sem borboletas vulgares
sobre o poema.
sem o conhecimento de toda a gente.
sem o teu conhecimento
ou existência.
amo-te assim sem corpo
com todo o meu corpo,
lembranças,
últimas coisas,
ouvires de língua,
palavras ardentes como
febres frias,
compromissos fundidos noutros,
o coração dobrado,
as braçadas da vida
nua e lenta como a borboleta
neste poema.
amo-te assim sem vida.
sem morte.
sem corpo.

Sylvia Beirute in " Uma prática para desconcerto ", 4 Águas, s/c., 2011, p 19.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário