quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Gilberto Mendonça Teles

ELIPSE



Vim descobrir o que ficou de elipse
e precisão,
o que se fez sucinto e reticente,
o inacabado do cabo Não.

Vim recolher esta úmida sintaxe
que foi além
e não poupou a rigidez da língua
que ficou sem.

E vim, não para ver, deixar a meio
fala e raiz:
vim extrair de ti a própria essência
do que não fiz.

Gilberto Mendonça Teles

O fazer poético
A poesia mostra ao homem outros sentidos da existência, integra-o na plenitude da sua cultura, dá ênfase ao visível e escancara as janelas do invisível, amplia portanto o seu universo e lhe restitui a ilusão de sua divindade, uma vez que lhe dá o poder da criação através da linguagem. Ela tem a força natural dos álibis - que apontam para um e, ao mesmo tempo, para outro lugar, quase sempre utópico; e tem, como a Sibila o poder encantatório de nos fazer jogar com o sobrenatural. É por isso que os tiranos de todos os tempos e lugares temem os poetas e a poesia. E não é à toa que para Hölderlin ela é ao mesmo tempo a mais inocente das ocupações e o mais perigoso de todos os bens.

Gilberto Mendonça Teles

-----------------------------------------------------------------------

I


Nem a noite desfaz a conveniência
absurda de chorar, nem disfarçamos
no rumor das estrelas camufladas
nossa origem de fogo e primavera.
No vértice do tempo sobrevive
a grande solidão de nossos passos
perdidos, como a chuva, nos extremos
desta terra sem vento e ressonâncias.
Além do acaso, consultamos tímidos
os contornos das nuvens debruçadas
e nos rimos da vida, enquanto pássaros
submersos nestas águas sem naufrágio
e estranhos neste exílio transitório
que os prodígios da noite amadurecem.


Gilberto Mendonça Teles
In Sintaxe Invisível

Nenhum comentário:

Postar um comentário