sábado, 11 de abril de 2009

cântico II - Cecilia Meireles


Cântico II

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faça-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a eternidade.
És tu.
Cântico XVII

Perguntarão pela tua alma.
A alma que é ternura,
bondade,
tristeza,
amor.
Mas tu mostrarás a curva do teu vôo
livre, por entre os mundos...
E eles compreenderão que a alma pesa.
Que é um segundo corpo,
e mais amargo,
porque não se pode mostrar,
por que não se pode ver


Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar
Por que havemos
de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?

Não encontro caminhos
fáceis de andar.
Meu rosto vário
desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.

E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura
e encanto indiferente
de herança, em cada lugar

Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe
e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.
Cecília Meireles

Um comentário:

  1. "Meu destino é mais longe
    e meu passo mais rápido:
    a sombra é que vai devagar.
    Cecília Meireles
    - Nosso destino é mais longe... Evoluir até a perfeição relativa, ou Cristificação de si mesmo, com base na determinação do Mestre dos Mestres, Jesus: "Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai Celeste"... Ela - Cecilia - sabia isso... Os verdadeiros poetas, todos o sabem, há, entretanto os que pensam que são a sombra, ou o corpo material, que não pode acompanhar o passo do Espírito, cuja velocidade é a do pensamento. Parabéns pela postagem.

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