domingo, 3 de abril de 2011

HILDA HILST

XII




Temendo desde agosto o fogo e o vento

Caminho junto às cercas, cuidadosa

Na tarde de queimadas, tarde cega.

Há um velho mourão enegrecido de queimadas antigas.

E ali reencontro o louco:

- Temendo os teus limites, Samsara esvaecida?

Por que não deixas o fogo onividente

Lamber o corpo e a escrita? E por que não arder

Casando o Onisciente à tua vida?
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XX




De grossos muros, de folhas machucadas

É que caminham as gentes pelas ruas.

De dolorido sumo e de duras frentes

É que são feitas as caras. Ai, Tempo



Entardecido de sons que não compreendo

Olhares que se fazem bofetadas, passos

Cavados, fundos, vindos de um alto poço

De um sinistro Nada. E bocas tortuosas



Sem palavras.



E o que há de ser da minha boca de inventos

Neste entandercer. E o do ouro que sai

Da garganta dos loucos, o que há de ser?





Hilda Hilst

In Amavisse (1992

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