sexta-feira, 22 de abril de 2011

Charles Baudelaire

EMBEBEDAI-VOS






É preciso estar-se, sempre, bêbado. Tudo está lá, eis a única questão. Para não sentir o fardo do tempo que parte vossos ombros e verga-vos para a terra, é preciso embebedar-vos sem tréguas.



Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, a escolha é vossa. Mas embebedai-vos.



E se, às vezes, sobre os degraus de um palácio, sobre a grama verde de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordadardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que passa, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: "É hora de embebedai-vos, embebedai-vos sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude: a escolha é vossa."





(Charles Baudelaire - do livro: Pequenos poemas em prosa - trad.: Gilson Maurity)

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