sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CECILIA MEIRELES

Constância do deserto






Em praias de indiferença

navega meu coração.

Venho desde a adolescência

na mesma navegação.

- Por que mar de tanta ausência,

e areias brancas de tão

despovoada inconsistência,

de penúria e de aflição?

(Triste saudade que pensa

entre resposta e a intenção!)

Números de grande urgência

gritam pela exatidão:

mas a areia branca e imensa

toda é desagregação!



Em praias de indiferença

navega meu coração.

Impossível, permanência.

Impossível, direção.

E assim por toda a existência

navegar, navegarão

os que têm por toda ciência

desencanto e devoção.



Cecília Meireles

in: Mar Absoluto

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