TEXTURA DAS LETRAS
quarta-feira, 13 de junho de 2012
sábado, 26 de maio de 2012
Wender Montenegro
HUMANO DEMAIS
Somos pedaços de Deus
sob o signo do tempo,
corpo de luz esvaído
ao frágil sopro das horas,
borboleta encarcerada
na inércia dos casulos.
Somos o verbo inflamado
que nem se sabe murmúrio.
Sísifos de eras modernas,
divisamos, consternados,
a queda sem-fim dos dias.
Somos ribalta em penumbra,
flor de luto, fogo-fátuo,
ar rarefeito, centelha
que ignora e traz em si
a essência da fogueira.
Alimárias do universo,
erguemos, inconseqüentes,
o fardo livre do arbítrio.
Somos migalhas do eterno,
ouro vulgar de Eldorado,
mirante entre turbilhões,
luz em mãos de moribundo,
face-mistério da lua.
Bando de pássaros mudos
que ao toque do Ângelus fere
um céu sedento de canto,
somos razão em delírio,
rastro de Halley, sol posto,
cenho ferido de morte,
água barrenta que esquece
o veio de onde jorrara.
Somos pedaços de Deus
sob o signo do tempo.
[poema de Wender Montenegro
sexta-feira, 25 de maio de 2012
CANTIGA
Não quebres o encanto
da palavra vida.
Deixa que a palavra
role assim perdida
como a própria sombra
dessa coisa-vida.
Deixa que seu canto
se prolongue ainda
sobre os mil segredos
desta tarde linda,
sobre o mar sereno,
sobre a praia infinda
Há tanto silêncio
tanta paz na vida
que nem mesmo o tempo
com sua arte erguida
roubará o encanto
da palavra vida.
Deixa que a palavra
ande assim perdida...
- Alguém docemente
pensará na vida.
Guilherme Mendonça Teles
In 'Sintaxe Invisível'
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Antônio Brasileiro
Os instrumentos e ofícios
Este poema talvez não seja feito
para seu ouvido
acostumado às delícias
do pôr-do-sol, dos botões de rosa,
das palavras flácidas.
Este poema anda descalço
veste farrapos
xinga nomes horríveis.
Talvez seu ouvido se recuse
a captar coisas
tão ríspidas. Não importa.
Ele ecoará com seus trapos
sua rispidez sua
imundícia.
Ecoará bem alto
sobre as calçadas, os edifícios
sobre o mar —
e continuará ecoando em
cada onda nas praias
em cada pedra nas praças
em cada lâmina de faca.
- Antônio Brasileiro
in Moderna Poesia Bahiana, Tempo Brasileiro, 1967
Este poema talvez não seja feito
para seu ouvido
acostumado às delícias
do pôr-do-sol, dos botões de rosa,
das palavras flácidas.
Este poema anda descalço
veste farrapos
xinga nomes horríveis.
Talvez seu ouvido se recuse
a captar coisas
tão ríspidas. Não importa.
Ele ecoará com seus trapos
sua rispidez sua
imundícia.
Ecoará bem alto
sobre as calçadas, os edifícios
sobre o mar —
e continuará ecoando em
cada onda nas praias
em cada pedra nas praças
em cada lâmina de faca.
- Antônio Brasileiro
in Moderna Poesia Bahiana, Tempo Brasileiro, 1967
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
VEDAS
'Criando todas as coisas,ele entrou em tudo.Entrando em todas as coisas, tornou-se o que tem forma e o que é informe; tornou-se o que pode ser definido e o que não pode ser definido; tornou-se o que tem apoio e o que não tem apoio; tornou-se o que é grosseiro e o que é sutil. Tornou-se toda espécie de coisas: por isso os sábios chamam-no Real.''
VEDAS (Unpanichade)
VEDAS (Unpanichade)
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Quando
me vejo nu,
carne e tamanho apenas,
sofrendo a garra de algo
que me não orna, nem me afaga
Sinto por dentro um silencio
Que me deixa inda mais nu!
Quando me vejo nu
ao sol que me rói, parado
ao sal que me entra na vida,
ao ar que me desnuda a alma
Fico no mundo sem par,
Desejando me enterrar
Ah que desnudez faminta!
no banheiro, sobre o leito,
em qualquer parte do mundo,
onde se deixe o vestido
É o próprio medo do homem,
que aparece sobre a pele
Mas é tão bom , delicioso
O jôrro de água, o unguento
O perfume, a relva, a seda
De outra carne inda mais nua
Que o terror é esquecido
Por um instante florido!
Só um homem todo nu
Pode acreditar em algo,
Num pássaro azul, em deus
Numa coisa irreversível....
Armindo Trevisan
A LUZ DE TUA PELE
À luz de tua pele invento a noite.
Nela me embrenho até à morte alheia.
Ninguém é mais sozinho do que o açoite
que apaga tua luz, e me incendeia.
Armindo Trevisan
me vejo nu,
carne e tamanho apenas,
sofrendo a garra de algo
que me não orna, nem me afaga
Sinto por dentro um silencio
Que me deixa inda mais nu!
Quando me vejo nu
ao sol que me rói, parado
ao sal que me entra na vida,
ao ar que me desnuda a alma
Fico no mundo sem par,
Desejando me enterrar
Ah que desnudez faminta!
no banheiro, sobre o leito,
em qualquer parte do mundo,
onde se deixe o vestido
É o próprio medo do homem,
que aparece sobre a pele
Mas é tão bom , delicioso
O jôrro de água, o unguento
O perfume, a relva, a seda
De outra carne inda mais nua
Que o terror é esquecido
Por um instante florido!
Só um homem todo nu
Pode acreditar em algo,
Num pássaro azul, em deus
Numa coisa irreversível....
Armindo Trevisan
A LUZ DE TUA PELE
À luz de tua pele invento a noite.
Nela me embrenho até à morte alheia.
Ninguém é mais sozinho do que o açoite
que apaga tua luz, e me incendeia.
Armindo Trevisan
Assinar:
Postagens (Atom)