sábado, 11 de abril de 2009

Caminhos - Camilo Pessanha


Caminhos
(Camilo Pessanha)
I

Tenho sonhos crueis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmair sobre a ponte,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d'harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.


II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê nem eu o sei.
- Bom dia, companheiro - te saudei.
Que a jornada é maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como rocha dum calvário,
E queima como areia!... Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.


III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada...
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.

Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada...
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui inda este néctar avigora!...

Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar só todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!...

Deixai-me chorar mais e beber mais,
Perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar - encher a alma.

Caminante


Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar. Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

Cuando el jilguero no puede cantar
cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.

"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

BONS AMIGOS - Machado de Assis


BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!
Machado de Assis

Jack Kerouac


"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."

Jack Kerouac

Confissão - Mário Quintana


Confissão

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

(Mário Quintana)

Recordo ainda - Mário Quintana


Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
Mario Quintana

Emergência- Mario Quintana


Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.
 
Mario Quintana

Um sopro de vida - Clarice Lispector


Um sopro de vida (pulsações)
" Dizer palavras sem sentido é a minha grande liberdade. Ouco me importa ser entendida, quero o impacto das silabas ofuscantes, quero o nocivo de uma palavra má...eu sou de longe. Muito longe. E de mim vem o puro cheiro de querosene."

Clarice Lispector

SONETO V - Paulo Bonfim


SONETO V


Alquimia do verbo. Em minha mente
Recriam-se palavras na hora vária,
A poesia se torna necessária
E as flores rememoram a semente.

É preciso que exista novamente
A aventura distante e temerária
De em ouro transformar a dor precária
E em nós deixar correr a lava ardente.

Que emoção profunda e mineral
Corra nos veios desta carne astral
E encontre em mim aquilo que procura.

Na paisagem que for, já sou nascido:
Nas formas criarei o elo perdido,
E, em lucidez, serei minha loucura.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 –

Pequeno esclarecimento...Mario Quintana


Pequeno esclarecimento...Mario Quintana
Os poetas não são azuis nem nada,
como pensam alguns supersticiosos,
nem sujeitos a ataques súbitos de levitação.
O que eles mais gostam é estar em silêncio -
um silêncio que subjaz a quaisquer escapes
motorísticos ou declamatórios.
Um silêncio...
Este impoluível silêncio em que escrevo
e em que tu me lês.
A vaca e o hipogrifo - Quintana


Esse silêncio azul
Azul tão imenso quanto o silêncio
da paz.
Silêncio que busco no
Azul que encontro...
Matizes azuis que encantam as serpentes que me cercam
Invólucros que embalam as insistentes desconstruções
Azul das águas que são vidas
Azul do espelho d'alma que hoje traduz a calmaria
dos meus mares..
Ntakeshi.


...e os poetas continuam não sendo azuis...nem nada ...*Mário Quintana
Mas alguns são tão anis que resplandecem
E transcedem a própria morte em tons coloridos e fascinantes!

Thiago de Mello

Armorial I - Paulo Bonfim


Primeiro foi o mar, selva noturna
Com solidão de estrela na manhã;
Houve ramos de sal sobre saudades,
E falhas transparentes de lembranças

Primeiro foi o mar, terra perdida
Na oscilação de vales e montanhas,
Houve marcos plantado em salsugem,
E fronteiras na espuma descoberta.

Primeiro foi o mar, o chão de espanto,
Sulcado pela quirela dos arados
Que o vento fecundou em noite escura...

Depois, houve caminhos e sementes;
O sonho despertou sereias brancas,
E a treva amanheceu em madrugada.

Armorial I - Paulo Bonfim

Tão tarde seria
Se apenas chegasses
Vestida de verbos
Que as lendas conjugam.
Se fosses o afago
Pousado em meu braço,
O vago retórico
De gaios torneios
Tão tarde
seria se apenas trouxesses
o limbo em teu ventre
e cítaras mudas
tocadas de ausência
se esfera flutuassem
no vinho proibido,
apenas legasses
o sal a meu golfo,
e um gosto do vazio
aos frutos que espero;
tão tarde seria!

Canções – Paulo Bonfim

Descoberta - Paulo Bonfim - 50 anos de Poesia


Deixa que as coisas te interpretem
Que o vento sinta tua pele,
Que as pedras meditem teus passos,
E as águas criem tua realidade.
Vive o mistério da terra,
O segredo da semente,
O caminho da seiva,
O milagre do fruto.
Deixa que as coisas meditem sobre ti
Que ventos,pedras e águas recriem tua imagem;
Entende a mão que te acolheu,
A lâmina que te despe
E sangra teu silêncio,
Reflete o mundo branco que te mastiga,
Transforma-te em carne,e em galeras de sangue.
Regressa
A vida terá partido,com bicos noturnos,
A casca da palavra.

-Descoberta - Paulo Bonfim - 50 anos de Poesia

Autoria desconhecida


(...)Cada estação da vida
é uma edição que corrige a anterior,
E que será corrigida também,
até a edição definitiva,
Que o editor dá de graça aos vermes(...)
Autoria desconhecida

Escutatória - Rubem Alves


OUVIR É PURA ARTE
Escutatória - Rubem Alves

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de
escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade:
A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...
Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.
Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...
Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência...
E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...
Que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
"Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade"
Sempre que interrompemos uma pessoa que está falando algo , é pq na verdade sempre achamos o que nós temos a dizer é muito mais interessante.

Sutil arrogância e vaidade. Concordo.

Alcoólicas- Do desejo 1993 Hilda Hilst)


‘’Mandíbulas. Espáduas.Frente e Avesso.
A vida ressoa o coturno na calçada.
Estou mais que viva: embriagada.
Bêbados e louco é que repensam
A carne e o corpo.
Vastidão e cinzas
Conceitos e palavras’’
(Alcoólicas- Do desejo 1993 Hilda Hilst)

coletânea - Paulo Bonfim


O Ar



Em nossa transparência
Os muros da carne.

Em nossa angústia
O vento rebelde.

Em nossa nuvem
O vôo do pássaro.

Em nossa fonte
A água invisível.

Em nossa árvore
A serpente do nada.

Somos o ar
Na torre das palavras.



Publicado no livro Quinze Anos de Poesia (1958).
In: BOMFIM, Paulo. Antologia poética. São Paulo: Martins, 1962. p.7
Som Distante

Pela janela aberta para o céu de estrelas,
Penetrou, pelo meu quarto adentro,
O rumor de um corpo que é lançado ao mar!
A eleita de meus sonhos
Teve por última morada
O fundo do Oceano!

Seus cabelos loiros são agora
Mensagens da luz do sol
No abismo das águas.
Seu corpo, muito branco,
Quando livrar-se da mortalha
Que os marinheiros rudes coseram,
Será, na imensa noite oceânica,
Um raio de luar a percorrer abismos.

A eleita de meus sonhos
Teve por última morada
O fundo do Oceano!
Os bancos submersos de corais,
As esverdeadas águas,
Hão de invejar seus lábios rubros
E a cor de seus olhos verdes;
Suas mãos espirituais
Serão estrelas de cinco pontas
Correndo o mundo das águas.

Um corpo amortalhado foi lançado ao mar!
Algo de estranho passou dentro de mim!
Pois sinto-me afastado para sempre
Do círculo vicioso da Esperança!


In: BOMFIM, Paulo. Antônio Triste. Pref. Guilherme de Almeida. Il. Tarsila do Amaral. São Paulo: Martins, 1946
Soneto XVII


[Noites que são galeras cor do tempo]


Noites que são galeras cor do tempo:
Velas de sombra pousam na paisagem,
E o silêncio desperta outro silêncio,
Nos mudos tripulantes que hoje somos!

Noites que são galeras cor da morte:
Quilhas de ônix e grandes remos de ébano,
Revolvem singraduras de luar
No mar atormentado de lembranças!

Noite que são galeras cor do espaço:
Grandes barcos de treva carregados
De abismos e de pétalas de luz!

Noites que são galeras que não voltam:
Um dia chegaremos ao refúgio
Das naus transfiguradas em passado!


Poema integrante da série Sonetos Branco.
In: BOMFIM, Paulo. Sinfonia branca. São Paulo: Martins, 1955
XXIII
[A linguagem do eterno]


A linguagem do eterno
Principia no efêmero.
Em nosso mar
A intuição é pérola.


Poema integrante da série Prelúdios de Inverno.
In: BOMFIM, Paulo. Sinfonia branca. São Paulo: Martins, 1955
"AI DAQUELES"



Ai daqueles que brincam com a esperança de um povo!
Ai daqueles que se banqueteiam junto à fome de seus irmãos!

Ai daqueles que são fúteis numa hora grave,
Indiferentes num momento definitivo!

Ai daqueles que fazem da mentira a verdade de suas vidas!
Ai daqueles que usam os simples como degraus de sua vaidade
e instrumento de sua ambição!

Ai daqueles que fabricam com a violência a trama do medo!

Ai daqueles que usam o dinheiro para prostituir,
humilhar e deformar!

Ai daqueles que se atordoam
para fugir das próprias responsabilidades!

Ai daqueles que traficam a terra de seus mortos enxovalham
tradições e traem compromissos com o presente e com o futuro!

Ai daqueles que se fazem de fracos no instante da tempestade!
Ai daqueles que se acomodam a tudo, que se resignam a tudo,
que se entregam sem lutar!

Ai daqueles que loteiam seus corações, alugam suas consciências,
transacionam com a honra,
especulam com o bem, açambarcam a
felicidade alheia e erguem virtudes falsas sobre pântanos!

Ai daqueles que concordam em morrer vivos!


PAULO BONFIM
ARMORIAL, XI



Por certo hei de cantar esquecimento
Manhãs paulistas onde sou raízes...
Recordações ondulam neste campo
Onde o vento conduz a minha história.

Por certo nascerei em cada folha
Sonhada na madeira das canoas,
E minhas penas brilharão na fronte
De astrais caciques conduzindo noites.

Por certo cantarei pegadas mortas,
Marcando em minha carne seus caminhos
Desbravados em células remotas...

Que estes versos queimados de horizonte,
Falem dialetos puros e selvagens,
Nas manhãs mamelucas que hoje canto.


Paulo Bonfim
SONETO I


No ramo a flor será sempre segredo
Moldando realidades no vazio,
Caminho de perfume, rosa e estio,
Crescendo além dos roseirais do medo.

Histórias das raízes sem enredo ...
Rolam frases de terra pelo rio,
As consoantes de luz tremem de frio
E as vogais orvalhadas morrem cedo.

No ramo a flor será sempre futuro,
Haste e corola nos confins do sonho,
Marcando de infinito a cor do muro ...

Sempre a cor sobre a senda debruçada,
E o perfume crescendo onde reponho
O sentido da flor despetalada.


Paulo Bomfim –
in Sonetos – l.959 - 24/05/08 Maria Madalena
SONETO II


O livro que hoje escrevo foi escrito
Em outro plano estático e diverso,
Sei que morro no fim de cada verso
E renasço no início de outro mito.

Em cada letra tinta de infinito
Há um diálogo mudo que converso
Com nebulosas de meu universo
Onde nasceu a página que dito.

Sei que sou neste instante o que já fui,
E aquilo que recebo agora flui
De um campo superior onde me deito.

Durmo além, nessa plaga que recordo;
Só escrevo neste plano onde hoje acordo,
Aquilo que ainda sonho no outro leito.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 – 24/05/08 Maria Madalena
SONETO III


Nascer do verso puro e correntio,
Brotar da fonte feita de miragem,
Sentir que em nós, outros espectros agem
Vivendo em nossa pele de arrepio.

Rolar no próprio espanto a voz do rio
Sumindo em chão secreto da mensagem,
Saber que os olhos são também paisagem
Vista de além do céu perdido e frio.

Nascer em cada sopro de universo,
Ser alma navegando o som do verso
Em sílabas de espelho pelo porto.

Chorarmos vida no destino morto;
Sabendo que esse pranto assim convulso
É o tema que hoje bate em nosso pulso.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 - 29/05/08 Maria Madalena
SONETO IV


Onde guardar a esquiva luz dos fastos
Escritos no papiro das areias?
Longe é o mar, canto verde de sereias,
Mais longe é o tempo com seus campos vastos.

Que memória retém minutos castos
Que a vida foi prendendo em suas teias,
Hoje que a morte passa em nossas veias
Trilhando o sangue dos caminhos gastos!

Agora que as memórias esquecidas
São pássaros batendo asas de fumo
Na sombra que anuncia despedidas ...

Agora, nuvem triste em sol deposto,
Onde guardar a esquiva luz de um rumo,
Se a vida anoitece em nosso rosto!


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 – 30/05/08 Maria Madalena
SONETO V


Alquimia do verbo. Em minha mente
Recriam-se palavras na hora vária,
A poesia se torna necessária
E as flores rememoram a semente.

É preciso que exista novamente
A aventura distante e temerária
De em ouro transformar a dor precária
E em nós deixar correr a lava ardente.

Que emoção profunda e mineral
Corra nos veios desta carne astral
E encontre em mim aquilo que procura.

Na paisagem que for, já sou nascido:
Nas formas criarei o elo perdido,
E, em lucidez, serei minha loucura.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 – 30/05/08 Maria Madalena
SONETO VI


Sei que fui viandante, o mar, os olhos
Da noite que hoje mora nos cabelos,
Fechei meus passos com noturnos selos
E em desenhos nublados fiz meus sólios.

Sei que sou maresia nos escolhos
Unindo além do sal de tantos elos
Ilhas e continentes, sem perdê-los
Na areia, nas palavras, nos abrolhos.

Sei que seria a vida renascida
Das ondas verdes que já não se espraiam
Na página de sombra já relida.

Sei que serei aquele que convence o
Espanto das estrelas que desmaiam
E acordam transformadas em silêncio.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 – 30/05/08 Maria Madalena
SONETO VII


Deixa que eu seja o mar unicamente,
Sem praias, sem montanhas de alegria;
- Corta-me os tubos de ar da noite fria,
E não roubes de mim o sal ardente.

Se as ilhas já cantei antigamente,
Hoje canto os segredos sem o dia,
As cavernas de sombra e maresia,
Os céus de espuma desta vida ausente.

Crescendo-me nos pés as nadadeiras,
Leve-me ao fundo de meu próprio mal
A carne destas ondas companheiras ...

Então, nas águas onde tu me deixes,
Pensarei escafandros de cristal,
E as guelras, e as escamas de meus peixes.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 - 12/06/08 Maria Madalena
SONETO VIII


Este crescer constante das paredes
Onde guardo retratos do infinito,
As tintas apagadas de meu grito
E os lábios de papel bebendo sedes;

Tetos que vão fugindo, onde não credes
Possam viver lanternas de granito,
Luzes astrais surgidas de outro mito
Pescado nas escamas de outras redes;

Paredes que plantei em chãos de outrora,
Onde a paisagem era o fim e o centro,
E as portas davam nos confins da aurora ...

Sei que o teto me foge como as naves:
Agora que se apaga a voz de dentro,
A vida emigra na canção das aves.


Paulo Bomfim
in Sonetos – l.959 –

'Noturno ' - Henriqueta Lisboa


'Noturno '

Meu pensamento em febre
é uma lâmpada acesa
a incendiar a noite.

Meus desejos irrequietos,
à hora em que não há socorro,

dançam livres como libélulas
em redor do fogo.

Henriqueta Lisboa
Publicado: Prisioneira da Noite (1941

Pensador Insuspeito


Escrevo um poema no teu corpo
Escrevo-o com palavras-mãos
Soletrando as palavras
Desejo lascívia
Carícia e prazer
Não vou pontuar o meu poema
Nada de vírgulas
Pontos finais
Mudanças de parágrafo
Não quero pausas
No meu poema-corpo
Escrevo-o sem parar
Sem respirar
De cima para baixo
Subvertendo a palavra crescendo
Risco cravo o poema
No teu corpo-página
Até ficares preenchido
Coberto repleto
De traços riscos e letras
Até só haver espaço
Para a palavra orgasmo
E não faltar escrever
Senão a palavra
Fim
publicado por Pensador Insuspeito

Love Blow - a dream


you always it existed. for me
always was here. .for me
and now I only obtain to see you
in my dreams

you always it was my foundation
exactly when nor wise person of this
and was in a love blow
that discovered you…

it only stows lost walking in
circles delivering to me it to other
passages and now that I perceived
that you always was so close

it will be that the guilt was mine
if stows for as much distracted time
exactly knowing of mine distresses
of my fears and disillusions

he will be that the angels only wanted to play
to make to believe me other ways
of if loving?
or it will be that it was only the jealousy or another treason?

then as it will be of now in ahead…
if already I have the format of your face
if already I felt the heat of your body
and found my answers in your look…

what it will be of me… after this meeting
if the prophecy in them placed in opposing sides
if to each dusk who is you searchs
and my peace and my comfort are in you….

to each rhythm it is your heart that I listen
and he is not more to palpitar of my heart
what I will make if my wait is solitary,
the days if they drag without your presence

I always existed… only to live this instant
I always I stow here… only for this instant
and only now that I perceived…
that the end of this instant never will go to arrive

this is the moment of the eternity of our dream
the time where our love if writes
in the fullness of two souls that if find
and this everything I read in your skill to say me…

now I know that everything will go to be well…
my perpetual love
because the skies had protected to it and had brought you
until me…


Ntakeshi - Um Sopro de Amor - traduzido

Loucos e Santos - Oscar Wilde


Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde

Louis Jouvet



"Não há nada mais fútil, mais falso, mais vão, nada mais necessário que o teatro."

Louis Jouvet
CUBRA-SE COM AS ASAS DA FENIX

Paulo Leminski


"eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha "

"Carrego o peso da lua,
Três paixões mal curadas,
Um saara de páginas,
Essa infinita madrugada.

Viver de noite
Me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse, eu mesmo carrego."


Leminski

'Jogo da Verdade'-Roseana Murray


'Jogo da Verdade'

A verdade é um labirinto.

Se digo a verdade inteira,
se digo tudo o que penso,
se digo com todas as letras,
com todos os pingos nos is,
seria um deus-nos-acuda,
entraria um sudoeste
pela janela da sala.
Então eu digo
a verdade possível,
e o resto guardo
a sete chaves
no meu cofre de silêncios.

Roseana Murray
in ‘Pêra, Uva ou Maçã’(2005)

Tudo vive em mim- Hilda Hilst


Tudo vive em mim.Tudo se entranha
Na minha tumultuada vida.E por isso
Não te enganas,homem,meu irmão,
Quando dizes na noite,que só a mim me vejo
Vendo-me a mim,a ti.E a esses que passam
Nas manhãs,carregados de medo,de pobreza,
O olhar aguado,todos eles em mim,
Porque o poeta é irmão do escondido das gentes
Descobre além da aparência,é antes de tudo
LIVRE,e por isso conhece.Quando o poeta fala
Fala do seu quarto,não fala do palanque,
Não está no comício,não deseja riqueza
Não barganha,sabe que o ouro é sangue
Tem olhos no espírito do homem
No possível infinito.Sabe de cada um
A própria fome.E porque é assim,eu te peço:
Escuta-me.Olha-me.Enquanto vive um poeta
O homem está vivo.
Hilda Hilst

Felicidade - Hermann Hesse



"Entre as palavras,
existem para cada falante as prediletas e as estranhas,
preferidas e evitadas, cotidianas -
que se usam mil vezes sem temer o desgaste -
e outras - solenes - que, por mais que as amemos,
só pronunciamos ou
escrevemos com cuidado e reflexão,
como objetos raros:
fazendo as escolhas que correspondem
a essa sua solenidade.
Entre elas está para mim a palavra : FELICIDADE."

(Hermann Hesse)

O Dom de Ouvir - Helena Kolody

O Dom de Ouvir

Ouvir
Como quem abraça e beija
a alma solitária
dos que ninguém escuta.

Ouvir com o coração
a confidência,
a queixa,
a longa história
dos isolados
pela indiferença alheia.

Ouvir com os olhos
e afirmar:
eu compreendo.

Nem é preciso dizer nada.

Helena Kolody

Alegrias- Helena Kolody


Alegrias


As alegrias passam por mim
Qual um sonoro bando de aves brancas
Por sobre o espelho do mar.

A superfície vibra de inquietas imagens.
Mas a profundeza é sempre a mesma,
Sempre a mesma,
E é eternamente a mesma a direção das vagas.

Helena Kolody

Evolução-Helena Kolody


Evolução


Caem as folhas de repente,
brotam outras pelos ramos,
murcham flores, surgem pomos
e a planta volta à semente.

Assim somos. Sutilmente,
diferimos do que fomos.

Impossível transmitir,
por secreto e singular,
o acrescentar e perder
desse crescer que é mudar.

Helena Kolody

Alma -Helena Kolodi


'ALMA'

Se eu pudesse fugir à planície da vida...

Como um arranha-céu de fronte de granito,
Iria projetar uma estrutura de aço
Para a cintilação remota das estrelas,
Para a serenidade inefável do espaço.

(1977)

Helena Kolodi em 'Correnteza' 1.977-

Trilha Batida -Helena Kolody


Trilha Batida


Em todos os caminhos,
vestígios de outros passos.

A própria voz se perde
no vozear imenso.

Há muito,alguém pensou
os nossos pensamentos.

Só existe um refúgio,
uma posse,
um domínio defendido:
o profundo de nós mesmos,
singular
e indevassável.

Helena Kolody

ETERNIDADE-NALDOVELHO



ETERNIDADE

NALDOVELHO


Não devo permitir o último beijo,
o último olhar, a última palavra...
Ainda que a porta se feche,
ficará o último desejo.

De ti, nada permitirei que seja adeus,
tudo há de me pertencer e eternamente,
meu espírito não mente.
A prova?
Haverá sempre mais um poema

Há dias que estou ausente-Lenise Marques


Há dias que estou ausente:
chegam-me longínquos os ruídos externos,
atravessando camadas e camadas
de mim mesma até meu Eu.

Todo dia me perco,
e todo dia me acho,
descendo até meus internos porões
e retornando depois lentamente,
me tornando matéria, ossos...pele.
Abrindo a porta,
e saindo finalmente à luz!

E quem me vê não imagina:
Que nasço todo dia de mim mesma
e que não sei nesse processo,
e nessa passagem entre os dois mundos

...à qual deles realmente pertenço!


Lenise Marques

Mahatma Gandhi


Sobre Gandhi, Albert Einstein disse que as gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra.
Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma
A regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos como uma toda a família humana. Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião."
Só quando se vêem os próprios erros através de uma lente de aumento, e se faz exatamente o contrário com os erros dos outros, é que se pode chegar à justa avaliação de uns e de outros.”
A única revolução possível é dentro de nós
Uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias."
Mahatma Gandhi (Mahatma, do sânscrito "grande alma")
Se eu pudesse deixar algum presente a você,
deixaria aceso o sentimento de amor à vida dos seres humanos.
A consciência de aprender tudo o que nos foi ensinado pelo tempo afora.
Lembraria os erros que foram cometidos, como sinais
para que não mais se repetissem.
A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você, se pudesse, o respeito aquilo que é indispensável:
alem do pão, o trabalho e a ação.
E, quando tudo mais faltasse, para você eu deixaria, se pudesse, um segredo.
O de buscar no interior de si mesmo a resposta para encontrar a saída.
Mahatma Gandhi



Não tente adivinhar o que as pessoas pensam a seu respeito.
Faça a sua parte, se doe sem medo.
O que importa mesmo é o que você é...
Mesmo que outras pessoas não se importem.
Atitudes simples podem melhorar sua vida.
Não julgue para não ser julgado...
Um covarde é incapaz de demonstrar amor, isso é privilégio dos corajosos.“
(Mahatma Gandhi)

estou procurando-Clarice Lispector


------estou procurando,estou procurando.
Estou tentando entender.
Tentando dar a alguém o que vivi
E não sei a quem,mas não quero ficar com que vivi.
Não sei o que fazer do que vivi,
tenho medo dessa desorganização profunda.
Não confio no que me aconteceu.
Aconteceu-me alguma coisa que eu,pelo fato
De não saber como viver,vivi uma outra?
A isso quereria chamar desorganização,e teria
A segurança de me aventurar,porque saberia depois
Onde voltar:para a organização anterior.
A isso prefiro chamar desorganização pois
Não quero me confirmar no que vivi –
Na confirmação de mim
eu perderia o mundo como eu o tinha,
e sei que não tenho capacidade para outro.
Se eu me confirmar e me considerar verdadeira,
Estarei perdida porque não saberei onde engastar
Meu novo modo de ser-
se eu fosse adiante nas minhas
Visões fragmentárias,
o mundo inteiro terá de se transformar
para eu caber nele (...)
A paixão segundo GH – Clarice Lispector

Este teu olhar-A.Bueno


Este teu olhar...
Há, neste olhar com que me olhas,
alguma coisa a mais que não defino,
algo assim inacessível
e ao mesmo tempo tão chegado.

Há, neste olhar com que me olhas,
uma luz profunda
que me embriaga
e me faz tremer,
ciente de que me vês.

Há, em teu olhar
e no teu jeito,
alguma coisa de íntimo
que me arrebata,
e me atira
num deslumbramento
febril, inebriante.

Sei que me sentes,
embora sem palavras
nos falamos.
Tu sabes que sou a meta,
eu sei que tu és o fim. * A.Bueno

texto anônimo


"Em algum lugar destas terras,
há um doce olhar só para você...
Um olhar especial, de alguém especial
Um olhar de um justo coração que pulsa só a vida,
que sorri porque ama plenamente sem julgamentos,
preconceitos, nem distinções.
Hoje, como ontem, longe desses céus,
há um encantado olhar só para você...
e nesse olhar vai para você a magia da luz,
a simplicidade do perdão, a força para comungar uma vida.
Hoje, de algum lugar dentro de você,
alguém que já a amou muito,e ainda a ama,
diz para você que valeu a pena ter estado nestas terras,
sob estes céus.
Poder sentir a força que faz você sorrir
e continuar o caminho..
que um dia aquele doce olhar iniciou para você.
Tudo isso, só para você saber que a vida continua...
E que a morte, é uma viagem." ...anônimo

''silencié ''- desconheço a autoria e o título-fragmento


¡El gusta cuánto escucho usted silencié
por lo tanto silencio de I él que nada dice
y todo habla!
¡El gusta cuánto me siento que usted el dormir
sueño por lo tanto es transparente
y todo divulga!
¡Gusta cuando percibo insone a usted
por lo tanto que el insomniosi está divulgando
y todo afirma!
gusta a usted cuánto veo fugidio a usted
¡Por lo tanto el escape es falso
y todo esvai!
¡Me gusta cuando baja el arredio usted
por lo tanto finalmente yo concibe así
y todo confirman!

- desconheço a fonte e a autoria- se alguém souber por favor poste no comentário,obrigada!

Sozinho-AlexSimas


Sozinho...

Minha razão me preserva
Minha emoção me suicida
E na ânsia de morrer
Desejo viver, sem saber por quê

Estou cansado, muito cansado
Sigo por ruas de muitas esquinas
Vias que me levam, apenas sigo
Ando por entre uma multidão solitária
Invisível, não me vejo não me sinto

No sorriso a placa da modelo um rosto
Zomba de minha dor, do anúncio a mensagem
Você pode ser feliz! Como se felicidade
Fossem pílulas ou saches de chá.

No papel um rasgo da boca no canto
Deforma, transforma o antes riso
A agora modelo coringa parece buscar
Nas trevas da justiça o cavaleiro
Seu Batman perdido

Sigo preso na força da camisa
Prisma da visão perdida
Foco da crença que me move
Conseguir viver no sempre que é esse agora
Olhar para trás tentando ver...
... Em que parte do caminho me perdi de você

(AlexSimas)

(Retalhos/Sylvio Brasil)


Distante
Afago meu coração fortuito
Que de amar ganhou teus anos
Na distância que se aproximou muito
Contra o peito inflado de derramar tantos

Dançavas com minhas meninas loucas
De vivacidade no canto de um olhar menina
Vencendo tuas fases que não foram poucas
Vertendo uma felicidade que o coração anima

Sem oportunidades de se olhar por fora
Pousastes nas minhas estrofes ainda distraída
Para alegrar minutos que se passaram hora
Na minha inadvertida busca te encontrar saída

Docemente assanha um sorriso brejeiro
Que me desmancha rugas desses passados anos
Como se fosse um vento de espreitar certeiro
No meu lado patente de renovar de anjos.

(Retalhos/Sylvio Brasil)

Canção do caminho -Cecília Meireles


Canção do caminho
http://lh6.ggpht.com/_mp4AvQiUHbo/SYgoCM4B7rI/AAAAAAAAAKI/AuSnH8P5sjM/s400/3185096306_da25ac6004.jpg


Por aqui vou sem programa,
sem rumo,
sem nenhum itinerário.
O destino de quem ama
é vário,
como o trajeto do fumo.

Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso
que penso em ti, meu amigo.
- Se fosse,
em vez da canção, teu braço!

Ah! mas logo ali adiante
- tão perto!-
acaba-se a terra bela.
Para este pequeno instante,
decerto,
é melhor ir só com ela.

(Isto são coisas que digo,
que invento,
para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
é a forma de esquecimento
do sonho sonhado à toa...)
Cecília Meireles

Canto de Quase Inverno-A. Severo Netto


Canto de Quase Inverno

Bêbado de silêncio e de distância
de tempo pré-velhice e pós-infância
diagonalizei-me em desvario
Fui de mim mesmo alga e cogumelo
transfixando amarra, laço e elo
na plenicarne vasta do vazio

Sufocado de treva e desencanto
de tempo pré-raiz e pós-espanto
verticalizei-me em desatino
Fui de mim mesmo início, fim e meio
trajado de amarelo desnorteio
louco sextante sem mostrar destino

Cansado de aclive e de abandono
de tempo pré-inverno e pós-outono
horizontalizei-me em desconforto
Fui de mim mesmo imagem, sombra e medo
despí-me de alarde e de segredo
colhí as velas...
...e arribei ao porto.

A. Severo Netto (Augusto 1976)

cântico II - Cecilia Meireles


Cântico II

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faça-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a eternidade.
És tu.
Cântico XVII

Perguntarão pela tua alma.
A alma que é ternura,
bondade,
tristeza,
amor.
Mas tu mostrarás a curva do teu vôo
livre, por entre os mundos...
E eles compreenderão que a alma pesa.
Que é um segundo corpo,
e mais amargo,
porque não se pode mostrar,
por que não se pode ver


Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar
Por que havemos
de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?

Não encontro caminhos
fáceis de andar.
Meu rosto vário
desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar.

E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura
e encanto indiferente
de herança, em cada lugar

Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe
e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.
Cecília Meireles

Cantares Hilda Hilst


CANTARES DO SEM_NOME E DE PARTIDAS
I


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.
II


E só me veja
No não merecimento das conquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias.
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos

Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos).

Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.

E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.
III


Isso de mim que anseia desepedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.

Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.

Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isto? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.
IV


E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasses a vida.

É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
Ou Catarina, ser menina ou malsã.

Penitente e doloso
Pode ser o sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo

Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.
V


O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tampo não
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).

O Nunca Mais é de planícies e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.

Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.
VI


Tem nome veemente. O Nunca Mais tem fome.
De formosura, desgosto, ri
E chora. Um tigre passeia o Nunca Mais
Sobre as paredes do gozo. Um tigre te persegue.

E perseguido és novo, devastado e outro.
Pensas comicidade no que é breve: paixão?
Há de se diluir. Molhaduras, lençóis
E de fartar-se,
O nojo. Mas não. Atado à tua própria envoltura
Manchado de quimeras, passeias teu costado.

O Nunca Mais é a fera.
VII


Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdi-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.
VIII


Aquela que não te pertence por mais queira
(Porque ser pertencente
É entregar a alma a uma Cara, a de áspide
Escura e clara, negra e transparente), Ai!
Saber-se pertencente é ter mais nada.
É ter tudo também.
É como ter o rio, aquele que deságua
Nas infinitas águas de um sem-fim de ninguéns.
Aquela que não te pertence não tem corpo.
Porque corpo é um conceito suposto de matéria
E finito. E aquela é luz. E etérea.

Pertencente é não ter rosto. É ser amante
De um Outro que nem nome tem. Não é Deus nem Satã.
Não tem ilharga ou osso. Fende sem ofender.
É vida e ferida ao mesmo tempo, “ESSE”
Que bem me sabe inteira pertencida.
IX


Ilharga, osso, algumas vezes é tudo o que se tem.
Pensas de carne a ilha, e majestoso o osso.
E pensas maravilha quando pensas anca
Quando pensas virilha pensas gozo.
Mas tudo mais falece quando pensas tardança
E te despedes.
E quando pensas breve
Teu balbucio trêmulo, teu texto-desengano
Que te espia, e espia o pouco tempo te rondand o a ilha.
E quando pensas VIDA QUE ESMORECE. E retomas
Luta, ascese, e as mós do tempo vão triturando

Tua esmaltada garganta... Mas assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas...
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.
X


Como se fosse verdade encantações, poemas
Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisses
Com colibris na boca.
E candeias e frutos, como se fosses amante
E estivesses de luto, e Ele, o Pai
Te fizesse porisso adormecer...
(Como se se apiedasse porque humana
És apenas poeira,
E Ele o grande Tecelão da tua morte: a teia).

Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome? ISSO...

O amor e sua fome.

Hilda Hilst

Assim falava a canção que na América ouvi


Assim falava a canção que na América ouvi

Entre panelas, gordura e serviço pesado de faxina,
entre cimento armado e concreto,
batuca o samba-enredo da escola.
Percussão.


Entre compassos e réguas empunhados,
traçando ângulos e conjugando verbos,
dançam os estudantes no ritmo da juventude.
Flautas-pássaro.


Entre os dedos trocados das mãos entrelaçadas,
confundindo os sentidos e unindo as forças,
caminham os namorados no mesmo sentido.
Violinos.


Outros se juntam com seus pianos,
suas trompas, oboés, clarinetas, seus violoncelos,
violões, surdos, baixos, mudos e altos.

E com todo esse aparato sinfônico,
cantam contra o colonialismo,
cantam contra o Imperador,
cantam contra Getúlio.


Agora formam uma banda e saem às ruas,
para que a moça feia e o avarento ouçam coisas de amor
e saibam que, apesar de tudo, "amanha há de ser um outro dia".


Levantam-se os povos, gritam livres os mendigos,
batem panelas em vários tons de amarelo -
amarelos nada medrosos - enunciando que inexoravelmente vai passar,
que querem a utopia e a felicidade dos olhos de um ancião,

muita alegria, muita gente feliz e que a justiça reine no continente, no conteúdo.
Consciente de que ficar de frente para o mar
e de costas pro Brasil não vai fazer desse lugar um bom país
levantam suas bandeiras e desmascaram seus verdes sentimento,
coração, juventude e fé.


Que mundo construirão?

Ana Lúcia Temporini Gonçalves (16 ANOS)

- Ana Hatherly


A minha vida é poética:
Paira entre a vaga mentira e a realidade.
O amor me acontece
Como as folhas às árvores,
E tão singularmente,
Que já nem sei se é natural à árvore ter folhas
Ou estar nua...

Amor V – Alice Ruiz


Fomos todos os dias começos
E fins de vida
Idas e vindas e as voltas que o mundo dá
Fomos o frágil perdão e castigo
Um pouco do ser homem e mulher

É esta a hora... - Sophia de Mello Breyner Andresen




É esta a hora perfeita em que se cala
O confuso murmurar das gentes
E dentro de nós finalmente fala
A voz grave dos sonhos indolentes.

(...)
É esta a hora das longas conversas
Das folhas com as folhas unicamente.
É esta a hora em que o tempo é abolido
E nem sequer conheço a minha face.